domingo, 27 de dezembro de 2009

A Bolinha Azul (The Blue Marble) - primeira foto da Terra, tirada da Apollo 17 em 1972.











Hoje fui ao cinema assistir Avatar, após tanto ouvir de amigos que o filme é mesmo emocionante e que valia a pena e eu adoro ficção científica, estórias fantásticas ainda mais com uma lição no final, sabe como? É, ultimamente estou mais disposta a ver coisas que me deixem bem, que me façam refletir e que me acrescentem de alguma maneira.

Bom, eu fiquei interessada em ver qual é desse filme, ademais eu já havia assistido ao trailer e me interessei por toda aquela computação gráfica que é realmente genial.

Fui. Gostei. É claro que se trata de uma mega produção hollywoodiana onde é muito difícil esperar que não haja o tablóide americano ao seu exército num filme de guerra, ataques etc e tal, enfim, é sim esperado sempre aqueles clichês próprios dessa ordem de roteiros; seus guerreiros, seus horóis e a típica valentia insolente que é praticamente inerente ao soldado americano e que a grande maioria dos cidadãos estadunidenses, os tipos nacionalistas ao extremo, tanto reverenciam.

No mais, deu pra filtrar e tirar algum proveito disso, afinal foi diferente e interessante perceber por um momento no filme que estava torcendo (acredito que não era a única naquela sala) contra os invasores, no caso os humanos, naquele planeta alienígina. É, eu me dei conta que ao contrário daqueles enredos de ataque alienígina ao nosso planeta, era um sobre o ataque humano a um planeta alienígina. Aí que está a ironia e por isso achei original a idéia. Eu torço sempre contra a violência e graças à Deus sei que não sou a única, só que eu não creio que a guerra seja necessária em hipótese alguma, por isso talvez me sensibilizei, mas não foi só isso. Ao que assiste Avatar sente-se comovido com a estória, pois não é diferente aqui no nosso planeta Terra, toda a destruição, a interferência do homem na natureza e a insistência em ignorar uma ordem maior e toda a nossa conexão e participação nela. Sabe, eu saí do cinema, que fica num shopping center da zona sul do Rio e fiquei observando aquelas pessoas com suas roupas, acessórios, sacolas, seus cachorrinhos, seus saltos altos ou sandálias havaianas "super-tendência" - grilhões de luxo, suas vidinhas medíocres e obsoletas e os meninos marginais passando e pedindo e todo o desconforto ou a indiferença que eles geram nessa sociedade que prefere acreditar em Papai Noel. É, porque o que parece pra mim é que essas pessoas ainda acreditam, não no bom velhinho, aquele que as criancinhas esperam na madrugada do dia 25 de dezembro; estou querendo dizer que o que me ocorreu naquele instante foi que o mundo está em transe, daí lembrei de um dos livros mais realistas que já li que foi "O Admirável Mundo Novo" (Brave New World), de Aldous Huxley, onde as pessoas eram controladas quimicamente pelo "Soma", uma droga que as impedia de qualquer questionamento, inclusive mesmo o do por quê tomá-lo e, portanto, as deixavam vulneráveis talvez à tirania mais assustadora de todas, que é a que é velada, oculta, que nos entorpece a tal ponto de não conseguirmos identificá-la e perceber que estamos todos escravos e que o próprio sentimento de liberdade produzido pelas sociedades capitalistas fazem parte do plano, é um slogan preconizado por essa sociedade e é utilizado para cercear o nosso direito de ser livre. É a alienação geral, da qual ainda não posso me julgar totalmente assintomática. Porém eu tenho sentido isso cada vez mais, principalmente depois que me mudei do interior de Minas Gerais pro Rio de Janeiro e venho assistido a olhos vistos (e vivos) e nus o sequestro da humanidade pela própria humanidade.

Às vezes eu penso que todos esses valores (morais, éticos, cristão etc.) são fruto também de um governo dos que querem extrair, explorar, consumir, auto-consumir até a última gota, do último trapo de existência e toda essa ganância, como é mostrada no filme Avatar, é produzida por um sentimento profundo de medo de acabar, medo da escassez e, mais ainda, o próprio medo de deixar de existir. Querer perpetuar, dominar a morte, o fim, e ansiar ter poder sobre o fim. É sim um paradoxo louco, esquizofrênico do único ser vivo que acredita que pode e tem o poder de manipular o que é real, o que é natural e só o natural é real. O que acontece também é que ultimamente sempre ao final da minha reflexão inesgotável eu sinto com toda minha alma que isso tudo, todo esse desvario humano é senão também um ato próprio do que está para se libertar e encontrar o que é verdadeiramente essencial. Por isso continuarei torcendo pela humanidade, acreditando que nós nos salvaremos no final.

sábado, 26 de dezembro de 2009

❝Tudo começou quando Mita abriu o livro e já na primeira frase daquele primeiro capítulo ela sentiu que estava para viver uma estória fascinante!❞

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foto: Tchello

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

in an empty jar










directions

no north no gain

no where to go

following

instructions

claim to feel fine


I've lost my way back

to where else

home

my sweet home


help me

distract me

gimme a place in an empty jar

DESCABELADO

Vamos faxinar, meu bem
esse salão
e o que convém
Tudo o que tem

Vamos arrumar alguém
para dançar também
nesse salão
com o que tem
e me convém
ir mais além

Venha com o sabão
lustrar o chão
pintar de blue
aquela parede
e não se esqueça
de escrever
naquele canto
algum lugar
que assossegue

Vamos faxinar alguém
nesse salão
pintar no chão
aquele lugar blue
naquele canto sossegado, ui
senti que vem
talvez convenha
ir mais além, meu bem
não se detenha
parei, lancei
desinibida
descabelei
tirei a fita
Quero ter sentido
Ter ficado
presente

Mas o que eu sinto pode parecer menos importante
Tudo o que eu disser
Já foi dito antes.

É sentir...
É meu sentido
Mesmo os argumentos
que se afastam de mim
não cabe distinção
e sobra sanidade
quando há coragem de ser insana
Talvez
um pouco de alegoria
Faça bem
e inventar
faz bem também
inventar faz bem também

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Maria Gabriela Llansol




Comecei a ler hoje o livro "Um falcão no punho", da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol (foto).

na página número 8, dito: [...]"A libertação de poder escrever e imprimir eu própria. Escrever não é um protesto de inocência?
Dobra tua língua e articula.
Dobra tua língua e articula."

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

blá-blá-blices fundamentais





Eu sempre tenho uma coisa a dizer, não pra alguém, não necessariamente a ser publicado. Perdi a conta dos posts não postados, guardados aqui mesmo no arquivo desse blog, quase na mesma quantidade dos que já foram publicados.

Talvez esse seja mais um. Não sei agora onde isso vai dar. Provavelmente mais um rame-rame filosófico, se bem que não tive agora uma boa idéia nem nada. Os momentos da minha vida falam por si mesmos, não precisam de nenhuma interpretação ou racionalização minha. Estão acontecendo e a cada dia uma surpresa, algo diferente que merece minha atenção e às vezes, quase sempre mesmo, tenho vontade de relatar isso, de escrever, de expor como é receber até o que num primeiro momento pode parecer injusto ou ruim, como tá sendo viver cada um desses momentos, tudo o que ocorre. Daí, à medida que vem chegando a "encomenda", me dá uma vontade incontrolável de registrar o que está sucedendo dentro de mim e então eu vou colocando aqui, nesse moleskine virtual, assim como eu tenho carregado na bolsa um caderninho de anotações e uma caneta, porque eu acredito no poder desse exercício pra mim.

Ontem eu li no blog da minha amiga Dani sobre como ela organiza seus pensamentos e criações. Por enquanto, no meu caso, está sendo diferente, vou jogando tudo assim sem me impor ou estabelecer qualquer tipo de ordem. Vai tudo pra dentro desse caleidoscópio, porque eu sou mesmo desse jeito (ainda) e não tenho, por enquanto, pretensão de mudar. Que seja nonsense! Que pareça assim para os outros, não me importo mesmo. Hoje não vou me preocupar com qualquer julgamento, nem mesmo o meu, e esse costuma ser o mais implacável. Tenho que admitir, no entanto, que venho mudando, venho me arriscando mais, me expressando cada vez mais, sem tanto medo.

Muita coisa já foi mudada; meu comportamento, pensamento, a maneira como venho olhando as coisas ao meu redor, a vida...

Não há nada de pretensioso nisso, nem vou me justificar. Só estou dizendo isso porque nessa época do ano eu acho bom agradecer, avaliar todas as coisas boas que eu fiz durante esses quase 12 meses, tudo aquilo que já mudou em mim, só uma listinha de gratidão que aprendi a fazer. Afinal me cansei de ficar só reclamando de tudo aquilo que eu não consegui e não consigo ainda cumprir e também de ficar invalidando o que já estou realizando.

Tá tudo acontecendo muito rápido, sem muita trégua, mas é claro que existe também tempos de ressaca, como a do mar, quando eu me sinto solavancada pela vida e por tudo o que é real.


Pra sair um pouco das elucubrações teóricas (achei engraçado agora - como se também isso fosse possível)...
--- Como eu disse antes, eu já percebi que a vida não carece disso e viver tampouco, mas vou só explicar porque tanta observação, porque eu tenho dito tudo isso. ---

Todas as notícias que eu tô recebendo estão me servindo pra me mostrar a minha impotência perante muita coisa. A aceitação dos fatos tal como eles são, sem mistérios nem nada, tudo o que ocorre ao meu redor e como eu reajo à isso; as pessoas e seus comportamentos, pricipalmente os auto-inflingidos, a minha vontade de fazer algo com relação a isso tudo, de querer mudar o outro, de tomar conta do outro, de salvá-lo de si mesmo, de fazê-lo pelo menos ver sob um outro ângulo, de mostrar que pode ser mais confortável, melhor. Enfim, saber o que cabe a mim mudar ou não, tudo isso ainda é muito complicado. E quando me pedem ajuda e eu não tenho como ajudar? Ou se por acaso o que solicita ou roga essa ajuda não aceita o que eu tenho a oferecer, se não era o que a pessoa esperava?
--- Eu aprendi que quando eu peço ajuda não tenho que ficar "escolhendo a cor da bóia", se ela vai me salvar, me tirar do afogo e talvez seja a única que esteja ao meu alcance no momento, eu não tenho que questionar muito, né não? ---


Entregar, deixar à Deus o que é de Deus e ao homem o que é do homem - acho que é mais ou menos assim que funciona. Aí, o que cabe a mim fazer? Qual é a minha parte? Até onde eu posso deixar à Deus e à natureza em toda sua força e sabedoria o curso dos fatos, até mesmo porque no final das contas não costuma sair do jeito que eu esperava. E o que é esperado que eu faça?

Eu já presenciei, já senti as manifestações de Deus, pequenos instantes de epifania. Eu percebi por experiência que todas essas manifestações são sempre muito amorosas e quando eu me dedico a prestar atenção nessa regência deveras matemática do que opera tudo eu me maravilho e humildemente reconheço minha fragilidade, minha pequenez, minha ignorância, ou melhor, minha inocência por querer e achar que eu posso governar minha vida e participar da direção da do outro também. Quanta prepotência! Santa prepotência!

--- É, eu acho isso lindo também! É humano! Eu sou assim mesmo, humana! ---
Eu sou livre para agir, mesmo que seja estúpido tentar, é sempre válido, porque pode me levar justamente a esse reconhecimento e rendição de que definitivamente não depende de mim. Ou não...? É, talvez até dependa sim, em parte, porque quer eu queira ou não eu sou participante ativa disso, mas ficar na tentativa de controle em hipótese alguma me garante o resultado que eu espero. Nada é tão seguro assim e, por isso mesmo, o é.

Daí eu me lembro do que um dia ouvi, acho que da minha mãe. A água só fica na minha mão em concha. Se eu tentar agarrá-la, segurá-la firme, ela se esvai, escorre entre meus dedos. É preciso que ela se aconchegue, se assente na palma da mão para não escapar, como num aconchego. Analogia simples assim.



Conclusão?

Vou acolher o que vem. E o que virá, Oxalá!




- Sabia que saía alguma coisa hoje! (rs) -

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

smokey eyes

Smokey eyes.

Let me see what I need to see.

I want a prospect to what a real life is.

I want it now!

I really want to stay here and look close
to be able to look forward.



Oh, smokey eyes,

Keep open.

Oh, smokey eyes.



I want to be guided,
by my own perception.

I wanna see.

I want to be sober and lucid
when the time comes
I want to be awake to a due course of time.

At this moment
I beg to be here and near.
I beg to be prepeared
to pay my self-determined pledge.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

À morte.

Ela é silenciosa.
É tranquila.
Ela é mais do que se pode ser algo.
Esteve presente antes mesmo do momento da primeira criação.

Anda descalça
Resiste ao sol, ao vento, à chuva, à seca,
ao relento.
Não é ruim, nem tampouco boa.

No mais, é amiga.
Talvez a única que mais me acompanha.
A cada nascer de dia
E a cada cair da noite.
A cada hora... a tempo.
Embora também não seja temporal.

E quanto mais tempo tenho ao lado dela,
E quanto mais a vejo, mais a respeito, a reverencio.
E quanto mais a aceito, mais aprendo com ela.

Ela é minha avó.
No entanto, não me garante mimos.
Ela é avó, porque não pode ser mãe.
E é sábia demais pra estar tão perto da minha geração.

Ela me conta histórias.
Ela me faz ninar.
Ela me abraça e me dá colo.
Ela está comigo.
Onde quer que eu vá, ela vai junto.

Em silêncio, paciente, certeira, com força.
Não é simpática, é simplesmente circunspecta.
Não é de agradar, mas não posso hoje negar que há algo de muito afetuoso nela.

domingo, 6 de dezembro de 2009

E quem disse que o amor é coisa de hippie?

Eu amo sim.
E amo, na medida que é, nem muito, nem pouco.
Amo meus amigos, meu homem, meu pet.
Amo minha família, meus companheiros, meus iguais.
Amo também o que é diferente de mim.
Amo a ordem das coisas.

Amo o que recebo.

Às vezes odeio, mas isso também é amar.
- não me passa indiferente, nada escapa desse amor.
Nem eu escapo desse amor. Não há fuga!

Na verdade, eu amo. É isso!
Nada de pieguice.
É mesmo só isso!
Amor, amor, amor.

Como me disse a terapeuta ao telefone há uma hora atrás:

- É tudo mesmo por amor!


quinta-feira, 26 de novembro de 2009







um dia um amigo me lembrou de uma teoria que devo ter ouvido em alguma aula de geometria.

"Duas retas paralelas se encontram no infinito."

Eu pergunto:

- Como??

Ele responde:

- Porque Deus assim quis.




Um sabor de verdade






Nasci no dia 30 de abril, mas poderia ter sido no dia 10 de maio, como estava previsto. Sou a segunda, filha de pais separados desde meus 5 anos de idade. Isso também importa, assim como tudo que aconteceu na minha história importa.

Hoje eu penso que não houve nenhum evento traumático a que eu não pudesse superar, todos eles foram perfeitamente necessários.

Eu vivo e morro a cada dia. Eu nasci e vivo pra morrer; e voltar sempre, fazer parte sempre. Não acredito que as coisas se acabem, acredito que elas estão sempre num movimento de consubstanciação, a união da criação ao criador.

Não tenho religião, pelo menos nenhuma que seja conhecida pela humanidade ou que tenha um templo ou um nome. Não tem sacerdote na minha igreja, e minha igreja é o próprio mundo.

Eu acredito na transformação.

Fui criada por minha avó Clara, que me ensinou que "na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". Isso mesmo, a Lei de Lavoisier. Aprendi isso no seu "laboratório" gastronômico, que também era um "ateliê" culinário, porque se tratava de alquimia e arte ao mesmo tempo. E ela era uma alquimista naquela cozinha. Eu me impressionava como ela conseguia produzir deliciosas tortas, bolos, suflês, sopas com a mistura de ingredientes de sabor insosso ou até mesmo desagradável; e ela era também uma artista, porque além de ficar tudo muito gostoso, fazia tudo com muita delicadeza e sensibilidade.

Enfim, o que eu aprendi é que eu posso estender o espaço de experimento para fora da cozinha e que eu não preciso desperdiçar nada, absolutamente tudo se aproveita. Cada sentimento e pensamento, cada idéia, cada opinião (mesmo que mude logo em seguida). Eu possso aproveitar tudo, sem censura, sem vergonha, sem limites.

E assim como as maravilhas da vovó que eu apreciava tanto com o paladar, com o olfato, o tato e a visão, eu estou verificando que é também desse jeito com a vida, com tudo na vida, tudo o que vem. Eu também posso transformar o que num primeiro momento acho ruim pra mim ou que me cause medo em uma experiência maravilhosa.

É uma questão de experienciar, e para isso é preciso se jogar, se entregar. Isso me dá medo sempre, mas aprendi também que mesmo o medo não significa que eu sou covarde, que eu não posso, que não sou capaz ou que é perigoso e mesmo o medo não me impede de ir, de viver, de experimentar. O medo é um sentimento natural que sempre vem sob a iminência do que é desconhecido, daquilo que nunca provei. O medo é a dúvida, é preconceituoso, mas é extremamente necessário, porque é ele que eleva o momento. O medo é como o sal. É um tempero necessário.

O importante é desapegar.

Também venho aprendendo que não preciso me apavorar com o medo e sim aceitá-lo e em seguida soltá-lo, liberá-lo. Também não é uma questão de resistência, nunca é. É imperioso se entregar, ainda que não significa se acomodar. Pelo contrário, a entrega para mim tem sido um exercício e, como todo exercício, no início causa desconforto.

Humildade.

Onde caberia a humildade nisso tudo? Pois é, a humildade é como o fermento. É ela um sentimento que me iguala ao todo. Também me aproxima de tudo, me nivelando ao que é extremamente natural, ao que é verdadeiramente real. A humildade me permite tudo isso que eu já disse, todo esse encontro, de maneira infinitamente plena. E plenitude é sinônimo de abundância. E abundância pra mim não é o que é demais, além da conta, pelo contrário, é o que é satisfatório, é a medida exata para o bem-estar essencial.

E a felicidade que se encerra nesses momentos, é como gota, é como um extrato de Deus, tão singular e genuína e por isso mesmo, a própria verdade.

Por fim, essa verdade, é o néctar mais saboroso. E na cozinha da vovó ela é a baunilha.




não me atraem os homens testosterônicos...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A moça do walkman

Ela caminha sem se interessar em chegar.

Seus olhos nada procuram.

Não há aquela normal intenção de observar.

As imagens estão lá, passam por ela como se quisessem chamar sua atenção, mas ela já não estava lá há tempo.

Ela escuta a música que toca em seu walkman, mas não procura identificar o que diz a letra.

Ela está distante daqui.

Pergunto: onde e o que a fez buscar aquele lugar tão seguro?

E enquanto a fotografo em minha memória do outro lado da rua acontece de um pássaro cair sem vida à sua frente. Surpreendo-me ao vê-la mudar seu olhar para o pequeno e frágil animal falecido ao chão. Ela o olha, o percebe e daqui eu sinto que foi como se tivesse se desprendido um pedaço do seu espírito.

Os veículos trafegam como se quisessem chamar sua atenção. Ela que não parece ter a intenção de atravessar, mas que encontra-se de pé em frente à rua, estando ali como em qualquer outro lugar; e como em lugar nenhum.

Eu, de cá, do outro lado, enquanto a assisto me passa uma outra questão: o que será que ela está pensando, ou ainda mais profundamente, qual o sentimento dela agora?

Seu olhar continua fixo naquele animal. Será que ela está a procurar um resto de alma e será que há ainda ali algo que anseie em viver? O que nada tem a ver com a doce e patente esperança, mas tão simplesmente com o processo natural e fatal do curso da vida, como o do rio. Existe ao menos a gota da qual valha a pena tragar?

Ela parece estar presa àquela vida perdida daquele outro ser, como à dela própria.

Seu walkman parece ainda tocar algum som. Qual será a trilha que compõe aquele momento?

Não importa, à ela não importa realmente.

Talvez a música que toca ali seja a única coisa que represente o que está do lado de fora e pode acessar aquele espaço vazio. Seus ouvidos são, então, as portas que dão ao imenso salão de baile sem quem ali dance ao repertório que a moça escolheu.

De repente, ela tira de sua mochila um lenço florido e, misteriosamente, pega o pássaro e o enrola naquele pedaço de pano. Estranhamente guarda-o consigo. Nesse momento todos os carros param e ela enfim atravessa a rua, passa por mim e seu olhar se direciona ao meu e quando isso acontece eu sinto em mim uma profunda compreensão daquela moça do walkman.

Estou em vários lugares que idealizo. Talvez aquela Pasárgada?

Mas estou aqui também e aqui me serve para me levar além. Seja através de uma sensação que me toma de repente, seja pela música que ouço e me remete a um país que desconheço.

Eu me carrego para viagens agradáveis do meu sonho.

Eu observo o que está a minha volta e ainda não sei dizer se participo.

Sinto-me contente por perceber que encontrei a caligrafia para descrever isso. Eu que não sabia nem ao menos essa importância.

É isso! São todas as coisas que me controem, bem como tudo aquilo que passa a me interessar, mas é bom também saber que estou aberta aos novos encontros, que são tantos. Persevero nessa busca interminável de infinitas possíveis descobertas.

É tão magnífico! Porque sempre há algo acontecendo enquanto eu aconteço também dentro de mim.

Um certo compasso

Giro em torno de mim

Um compasso estreito de mim

E escuto em mim um som

Uníssono em lá

Sequenciado, ininterrupto lá

E lá, distante até de mim

Pode-se ouvir

O som que de mim propaga

E mesmo se em dó me chega a dor

Pra lá se vai meu tom que sai

E o lugar é certo

Nem bemol, nem sustenido, nem só um pouco perto

É o reduzido lá

Buscando o acorde

Pra me acompanhar

Brincante menina

Se fantasia no escuro

A roupa que a veste

A disfarça no deserto sem rostos

Distrai sua confusão no salto

E pula e se maquia

E se despe daquelas peles passadas

Sonâmbula, não vê a hora que passa

Brinca no tempo, que é todo dela

E dança e se revela

No embalo de cadência infantil

Ela é toda sua

Ela é toda minha

Ela sou eu

Ela você

E se despe de peles passadas

Não vê a sonâmbula que passa com a hora

Se dança e me revela

Infantil

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aqui onde eu moro os galos não cantam anunciando a alvorada
Escuto o som dos pássaros, dos pardais, bem-te-vis, as aves urbanas.
esse som que invade o dia logo cedo,
junto com o ronco dos motores.
é o mundo acordando...
tô me sentindo meio descompassada.

Não estou ganhando nada com isso
Não estou meditando, escrevendo um livro ou compondo uma música
Não estou fazendo planos para o futuro.
Não, nada disso.
Só não estou optando por não dormir.
Fico presa à coisas absolutamente sem importância.
E as horas vão passando, passando...


Deus ajuda quem cedo madruga.
Mas será que Ele alivia as dores
dos que vigiam o tempo durante a madrugada?

sábado, 26 de setembro de 2009

broto fugidio

e tudo estará renovado
depois da chuva

o sol lustra
o chão

o brilho

a delicada
espera
de que virá
algo parecido
com o cheiro
da flor
recém-desabrochada

a gota
pinga
rega
grão novo
terra aberta

e tudo

tudo

tudo
se gera
se concebe

é tudo

farto

variado

intocado

e contingente


o som insiste

Ataque

Síncope

Duas notas
em compassos
distintos
os corpos sonoros
enchendo
espaço

um som

dissolvendo
outro som

a pausa
carece
de vibração
anterior
ou posterior

o silêncio
é sempre necessário

Acento

desmaio

súbito
enlevo
desacelerado
acontecimento
cadenciado
entrecortado
pelo ritmo
frenético
que antecede
o sim
absoluto
da vida

tudo é som

mesmo mudo
há som

um som surdo
pungente
valente
que insiste
em vibrar
tal corda
absurda
da morte
que distrai
o incauto
aprendiz
com a notícia
de que foi o fim
a última
e derradeira
nota
mas que agita
quiçá
o mais alto
brado
que existe
e que jaz
jamais




Já foi

Não há censura
contra o mal que você me fez
nunca houve
quem pudesse te repreender

Nem eu mesma consegui conter
tanto abuso
e eu quis saber
e tentei explicar
e nunca pude encontrar
o por quê
o por quê
o por quê

Tem a culpa do passado
meio manchado
borrado
cuspido
O medo de ser lúcido demais
e encontrar a saída
dessa loucura
e só era a criança
assustada
acorrentada
Era anjo caído

É cruel pensar
que eu pudesse sanar
sozinha
E jorrava dúvida
e confusão
Tinha alguma coisa incongruente
e displicente
e escasso em mim
Eu jazia assim
em sintonia
perfeita sintonia
com o fim

Agora sei onde estava
veio o parecer
foi o tinha que ser
Tudo encontrou o seu lugar
deixo estar
aqui embora lá
mas sempre em mim




sábado, 19 de setembro de 2009

mellow sand

discovering the mistery
of beeing nothing
but myself
I've found the way to be
that inocent fruit

recall my inocence
recall my joy
learn how to be dust
in the universe
or a mellow sand
a mellow sand



domingo, 13 de setembro de 2009

e é branco o seu lenço

deixe eu te mostrar
só dessa vez
te conto um segredo
pra variar

não sou de me abrir
não assim
peço para não rir de mim

então vamos lá

eu vou te trazer
mais um pedaço meu
será um prazer
mas vai prometer
que não vai revelar
pra mais ninguém

e não vá largar
não vá ficar sem

teu
teu
teu
guardei teu lenço branco
em troca da sua promessa
de ser
meu
meu
teu
o meu segredo
no teu lenço
e é branco, eu penso
afinal
ninguém ganhou aqui

domingo, 6 de setembro de 2009


I'm not a little girl anymore
as I wanted to be

I'm not a virgin
I was touched
I was touched
I was touched!!!!

I was born just now
I still play with my dolls
I don't want to grow up
I still play in my dreams

I like to be the one
who has a kind of purity
who has a little madness
who plays with fairies
and makes men cry

Quase outono em Paris


Paris tem cheiro e sabor pra mim
e é melodia que vou ouvir numa caixinha de música
ou que é tocada por um realejo no mercado das pulgas
cantada por um típico francês
ou do acordeão em Montmartre

Paris tem cheiro pra mim
de xixi à perfume
do metrô ou da Ladurée na Champs-Elysée
das pulgas do marchet
dos cafés de Montparnasse
dos cigarros, dos charutos e cachimbos

Paris tem sabor pra mim
do pistache dos glaces
dos crepes de nutella
dos macarons de pistache
porque quis provar tudo de pistache
dos eclairs às tartelettes

Paris é som, é letra, é imagem, luz
múltiplas diferenças
um frapê de tudo
que nem imaginava haver
e há em Paris,
pra mim, a convivência do que é livre, libertário
com o clássico e tradicional,
da senhora com o seu chien
do parisiense com sua baguete debaixo do braço
dos creolos dos Halles e do Portes de Clignancourt
dos turcos
dos turistas
dos jovens na beira do Sena
com seus violões e garrafas de vinho
ou latas de 1664

Já sinto saudade de Paris
da menina Paris
da senhora ainda jovem Paris
da torre
do carrossel

Paris já estava em mim antes de conhecê-la
agora, mais do que nunca, ela vive em mim
Vou ouvir um Serge ou Léo Ferré
Vou ficar mais um pouco em Paris
em sonho...
até um dia poder abraçá-la novamente

domingo, 9 de agosto de 2009

O jardim encantado de Ana Alice

no setembro Ana Alice acorda
e floresce junto com os raios da manhã
e junto com as primeiras flores da primavera

em setembro ela vai para o jardim
em setembro ela brinca com sua margarida todos os dias
que nessa época sempre acorda orvalhada da noite

a margarida de Ana Alice é nova e fresca
é delicada e tem seus caprichos
necessita sempre de carinho
precisa do toque suave da menina
o duende, esse arauto da primavera, fica à espreita
ele espera a sua hora
de brincar com Ana Alice
enquanto a margarida é regada
o duende toca uma flauta multicolorida
cujo som inebria as moças que florescem
no primeiro dia de primavera

Ana Alice rodopia com sua margarida nas mãos
que está plantada num lindo vaso
que possui duas alças ornamentadas
E ela gira e gira e gira
e se alegra e extasia

As flores acompanham seu movimento
uma brisa carrega centenas de miúdas pétalas
de flores de todo o tipo
é o grande momento que faz o jardim inteiro vibrar

as fadas cantam uma melodia
que também é seguida pelos movimentos de Ana Alice
e da flauta do duende

tudo ali inspira amor
tudo ali vibra
se abre
e se revela

em setembro o ciclo se renova
em setembro, a beleza da flor
o gosto do fruto
o gozo da natureza
Ana Alice germina

Amor Gerando
Natureza Olhando
Abelhas Zumbindo
Afeto Adubo




quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mais um caleidoscópio

Sou quem mesmo?
Sou um e outro
Sou ele e ela
Pedaço de vários
Conjunto mestiço de figura e comportamento multifacetados
Um mosaico triste de múltiplas coisas que não são minhas
Acho que me perdi
Ou me escondo, talvez, por aí

Há sempre um bom plano pra encenar
A tomada perfeita
Será que eu já sei, mas não ensaiei!
Atuo, brinco, mas me prendo
Eu me dirijo e me corrijo
O tempo todo

Quantas câmeras me revelam?
Descrubo que nenhuma
Triste
Não morri no final
Porque na verdade eu nunca existi.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

lulililu (por aconselhamento de Artemis)

Enquanto lili orvalha
Seu lulu chora
Doiganamasaratara
Galopes delirantes

O terreno sua
Minha mão cresceu no seu
piebrofanosanto
Absolutamente
belo relevo

Vi miar o gato
saia da sala
vem pra janela
traga seu lulu aceso
pra me balançar

O terreno mia
O gato cresce
A janela arde
Lili e Lulu amam

domingo, 26 de julho de 2009

work in progress...

Letra de música sem música

Letra de música sem música

Por que riem de mim quando saio com minhas pantufas cor de rosa?
Só não tenho o pijama, aquele que queria ir à sessão das 9h com você
Não durmo à noite que é pra não te acordar com meu sonho
Prefiro não dormir à noite e não te acordar
De dia guardo um pouquinho da sopa que fiz pro jantar

Espero te dar
Espero te dar

Da da da da da
Da da da…
Da da, da da da da

Convoco nossos bichinhos pra fazer a nossa festa de aniversário

Porque escrevo isso, como se fosse haver melodia pra acompanhar?
Como se pudesse compor essa música
E tocar pra você depois que o filme das 9h acabar?


Sights
Insights
Outside's died
We're tied to lights
Outside
Outside's died

o periférico é variável

Já sei que não sei olhar agora para o que vejo,
Mesmo se o que vejo não é aquilo para o que olho.
E se os meus olhos querem ir pr'uma outra direção?
E se eles não querem olhar para o que estou vendo?
Não posso compreender o que vejo e não entendo porque teimo em me concentrar no que olho.
A visão é periférica, enquanto meu olhar seleciona o objeto e o objeto é belo e seduz.
Ele traduz o meu desejo,
Desnuda meu sentimento,
Revela-me.
Fui descoberta agora!
Mas não quero fugir, ao contrário, quero ficar nesse acalanto do canto do olhar.
Um encantamento.
Momento.
O periférico é variável, o foco? eterno.

Lugares onde eu passeio