terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sob efeito ondulatório do contentamento da menina

http://pt.wikipedia.org/wiki/Luz

Não preciso mesmo de muita coisa...

Estou em São João del-Rei, cidade em que nasci, mas que morei por aproximadamente 10 anos, entre idas e vindas ao Serro, outra cidade do interior de Minas Gerais. Hoje moro no Rio por aproximadamente 3 anos.

Vim para cá afim de me encontrar com minha avó que está internada e estou aproveitando para me encontrar ou me reencontrar também, de uma maneira diferente agora. Embora não estivesse fazendo isso conscientemente até então, eu procurei essa noite conversar um pouco com minha mãe sobre coisas que eu achava não ter conversado antes, apesar de que ela me disse que estava tendo uma sensação de que fiz as mesmas perguntas à ela há alguns anos atrás.

Eu a inquiri sobre a minha infância. Quis saber como eu era, meu comportamento, os momentos que tive... E ela me disse algo que eu nunca imaginava.

Eu sempre achei que fosse uma criança quieta, recatada e por vezes até mesmo um tanto quanto triste. Nada disso! Ela me disse que eu era exatamente o contrário, muito comunicativa, carinhosa, me dava bem com todo mundo e sempre criativa! Eu era feliz e a única coisa que me deixava preocupada, já com 2 anos de idade, era a minha irmã mais velha, Marina. Qualquer problema que ela apresentasse eu me sensibilizava, se ela chorava eu imediatamente ia ao encontro dela e pedia para não chorar mais e ficava ao seu lado até passar. Minha mãe também me disse que a Marina teve que atrasar 2 anos na escola para ficar na mesma turma que eu, tudo porque eu não a deixava estudar direito, porque queria estar na mesma sala que ela. Estudávamos na mesma escola e eu fugia da minha sala para ir para a da minha irmã. Disso eu me lembro!

Minha mãe também me revelou que no meu aniversário de 2 anos, minha avó Clara, essa que está internada, fez uma festa linda pra mim e cuja as fotos eu colei na parede do meu quarto de tanto que gosto de olhar para elas, tentando me recordar desse momento bom da infância e da
Palominha. Ela me disse que quase ninguém foi, que só tinham 3 crianças além de mim e da minha irmã. Disse também que minha avó paterna, a vó Irene, ficou desapontadíssima, pois os convidados não levaram presentes e que a casa estava tão vazia que eu ficava passeando de velotrol livremente pela sala. Eu perguntei à minha mãe se eu estava triste por isso, por não ter ganhado presentes e não ter ido quase ninguém à minha festa e a resposta veio com a supresa (minha) de que eu não estava nem aí para isso, que estava feliz da vida andando no meu brinquedo e me divertindo com os amiguinhos que estavam lá e minha irmã. Eu fiquei espantada por me sentir amada mesmo assim e isso me deixou feliz. Fiquei feliz em saber que era uma criança simples, que me satisfazia com o que não era tanto, um pouco diferente do que foi pelo resto da minha vida (da parte que me recordo) até agora.

Mamãe chegou a me dar uma jóia dela para que eu ficasse contente e me disse que achava que a felicidade que ela me proporcionava nunca era suficiente para me deixar feliz e que não só ela, mas minhas avós também pensavam assim e, pelo visto, era exatamente o contrário, eu era feliz e não sabia (mesmo), como a canção. Eu achei engraçado a história da jóia, dada à uma criança de 2 anos, que não poderia entender o valor daquilo e eu não era nenhuma princesa! Mas também me senti uma ao saber hoje que minha mãe me deu esse objeto de tamanho valor e principalmente pelo gesto, mais valioso ainda. E eu era mesmo tratada como uma pequenina monarca.

Perguntei o que aconteceu com a jóia e se foi essa que eu havia perdido na escola. Mamãe me disse que achava que eu a tivesse perdido sim, 2 anos depois, mas que a encontrou guardada num potinho de danoninho dentro da minha merendeira. Eu achei até engraçado dela estar em minha posse por mais 2 anos, seja porque eu não a perdi até lá ou porque minha mãe pudesse de repente ter se arrependido de ter me dado algo de tanto valor, considerando que era ainda tão pequenina. Não sei que jóia é essa, nem se ela ainda existe ou talvez esteja penhorada. Sei que é preciosa a história e o carinho da minha família, assim como é belo eu saber um pouco que a Palominha era tão especial e que era eu lá atrás e que sou essencialmente assim, uma pessoa comunicativa, carinhosa, brincalhona, livre, que se importa com os outros, que ama sinceramente... Agora, o que mais me deixou contente foi saber que eu conseguia ser feliz com coisas tão simples, que eu não me atinha tanto à coisas sem importância mesmo, porque esse fato me mostrou como eu venho dando importância à coisas que realmente não merecem, simplesmente porque não têm.

Eu pude perceber verdadeiramente por esses instantes de conversa e com esse encontro à menina que fui, que a felicidade cabe mais na presença que no presente, no sentido que é possível ser feliz com quem está aqui ao meu lado, porque eu estou com eles também e não precisam me dar nada além da companhia; que eu posso sim me sentir presenteada com todos ao meu redor sem ficar sempre à espera de que me dêem algo para provar de que estão aqui, ou por aqui, ao meu lado.

Só tentando explicar melhor o que eu senti e estou sentindo...

Foi como um presente ganho depois de 27 anos passados daquela data, um presente recebido por todos aqueles (materiais) que não vieram no meu aniversário de 2 anos e que já não os teria mais e nem ao menos saberia dizer quantos nem quais, nem quem os me deu. Ao contrário, esse presente que ganhei essa noite, saber disso e da minha felicidade nesse dia de aniversário, me deixou tão feliz! Saber a menina que fui e que agora, talvez pela primeira vez, estou conscientemente sendo mais uma vez. Ou seja, foi o presente ganho duas vezes, porque eu entendi essa felicidade da criança que não sentiu falta alguma de mais do que aquilo que já estava tendo naquele momento, então, só consertando o que disse no início do parágrafo, não foi receber pelo o que não recebi, foi sim ganhar mais uma vez o que eu já tinha e o que eu tenho, foi reconhecer que sou esse alguém, um ser feliz e que eu sempre terei a mim!

E assim, como a difração da luz, essas informações todas passaram pelo meu coração essa noite e hoje irradiam em ondam livres e coloridas por todo a minha alma e agora são divididas com os que chegaram até essa linha dessa postagem e leram um pouco sobre esse encontro comigo menina.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

é melhor mais vazio ou menos cheio?

Lugares onde eu passeio