sábado, 26 de setembro de 2009

broto fugidio

e tudo estará renovado
depois da chuva

o sol lustra
o chão

o brilho

a delicada
espera
de que virá
algo parecido
com o cheiro
da flor
recém-desabrochada

a gota
pinga
rega
grão novo
terra aberta

e tudo

tudo

tudo
se gera
se concebe

é tudo

farto

variado

intocado

e contingente


o som insiste

Ataque

Síncope

Duas notas
em compassos
distintos
os corpos sonoros
enchendo
espaço

um som

dissolvendo
outro som

a pausa
carece
de vibração
anterior
ou posterior

o silêncio
é sempre necessário

Acento

desmaio

súbito
enlevo
desacelerado
acontecimento
cadenciado
entrecortado
pelo ritmo
frenético
que antecede
o sim
absoluto
da vida

tudo é som

mesmo mudo
há som

um som surdo
pungente
valente
que insiste
em vibrar
tal corda
absurda
da morte
que distrai
o incauto
aprendiz
com a notícia
de que foi o fim
a última
e derradeira
nota
mas que agita
quiçá
o mais alto
brado
que existe
e que jaz
jamais




Já foi

Não há censura
contra o mal que você me fez
nunca houve
quem pudesse te repreender

Nem eu mesma consegui conter
tanto abuso
e eu quis saber
e tentei explicar
e nunca pude encontrar
o por quê
o por quê
o por quê

Tem a culpa do passado
meio manchado
borrado
cuspido
O medo de ser lúcido demais
e encontrar a saída
dessa loucura
e só era a criança
assustada
acorrentada
Era anjo caído

É cruel pensar
que eu pudesse sanar
sozinha
E jorrava dúvida
e confusão
Tinha alguma coisa incongruente
e displicente
e escasso em mim
Eu jazia assim
em sintonia
perfeita sintonia
com o fim

Agora sei onde estava
veio o parecer
foi o tinha que ser
Tudo encontrou o seu lugar
deixo estar
aqui embora lá
mas sempre em mim




sábado, 19 de setembro de 2009

mellow sand

discovering the mistery
of beeing nothing
but myself
I've found the way to be
that inocent fruit

recall my inocence
recall my joy
learn how to be dust
in the universe
or a mellow sand
a mellow sand



domingo, 13 de setembro de 2009

e é branco o seu lenço

deixe eu te mostrar
só dessa vez
te conto um segredo
pra variar

não sou de me abrir
não assim
peço para não rir de mim

então vamos lá

eu vou te trazer
mais um pedaço meu
será um prazer
mas vai prometer
que não vai revelar
pra mais ninguém

e não vá largar
não vá ficar sem

teu
teu
teu
guardei teu lenço branco
em troca da sua promessa
de ser
meu
meu
teu
o meu segredo
no teu lenço
e é branco, eu penso
afinal
ninguém ganhou aqui

domingo, 6 de setembro de 2009


I'm not a little girl anymore
as I wanted to be

I'm not a virgin
I was touched
I was touched
I was touched!!!!

I was born just now
I still play with my dolls
I don't want to grow up
I still play in my dreams

I like to be the one
who has a kind of purity
who has a little madness
who plays with fairies
and makes men cry

Quase outono em Paris


Paris tem cheiro e sabor pra mim
e é melodia que vou ouvir numa caixinha de música
ou que é tocada por um realejo no mercado das pulgas
cantada por um típico francês
ou do acordeão em Montmartre

Paris tem cheiro pra mim
de xixi à perfume
do metrô ou da Ladurée na Champs-Elysée
das pulgas do marchet
dos cafés de Montparnasse
dos cigarros, dos charutos e cachimbos

Paris tem sabor pra mim
do pistache dos glaces
dos crepes de nutella
dos macarons de pistache
porque quis provar tudo de pistache
dos eclairs às tartelettes

Paris é som, é letra, é imagem, luz
múltiplas diferenças
um frapê de tudo
que nem imaginava haver
e há em Paris,
pra mim, a convivência do que é livre, libertário
com o clássico e tradicional,
da senhora com o seu chien
do parisiense com sua baguete debaixo do braço
dos creolos dos Halles e do Portes de Clignancourt
dos turcos
dos turistas
dos jovens na beira do Sena
com seus violões e garrafas de vinho
ou latas de 1664

Já sinto saudade de Paris
da menina Paris
da senhora ainda jovem Paris
da torre
do carrossel

Paris já estava em mim antes de conhecê-la
agora, mais do que nunca, ela vive em mim
Vou ouvir um Serge ou Léo Ferré
Vou ficar mais um pouco em Paris
em sonho...
até um dia poder abraçá-la novamente

Lugares onde eu passeio